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8 de abr. de 2012

O que a Igreja Católica, omitiu dos seus Fiéis?


Em 1945, um pastor encontrou um jarro de cerâmica numa gruta próxima a sua aldeia no Egito. Ao abri-lo, achou vários livros escritos em idiomas que ele não compreendia. Algumas folhas amareladas serviram alimentaram o forno a lenha de sua casa. As restantes caíram nas mãos de um religioso local, circularam no mercado de antiguidades e foram resgatadas por um funcionário do governo egípcio. Mais tarde, descobriu-se que a “lenha” era um tesouro de valor incalculável: a coleção de Nag Hammadi, 13 livros com 1 600 anos e histórias que a Igreja tentou abafar durante todo esse tempo. Mas não conseguiu. Depois de sobreviver ao tempo e à censura religiosa, o achado tornou-se o maior e mais importante acervo de evangelhos apócrifos, literatura que tem ajudado a elucidar vários mistérios sobre as origens do cristianismo.



Tesouro dos primeiros cristãos
A maioria dos escritos de Nag Hammadi foi produzida entre os séculos 1 e 3 e seus autores faziam parte das primeiras comunidades cristãs. Nesse acervo, é possível conhecer livros que ficaram de fora do Novo Testamento, como evangelhos de Tomé e Tiago. O interessante desses relatos é que destoam bastante do que aparece na Bíblia. Neles, Jesus tem um lado humano, Madalena é uma grande líder, Deus é um princípio masculino e feminino... Diferenças polêmicas que deixam claro por que os apócrifos sempre foram uma pedra no sapato da Igreja. “Eles representavam outro cristianismo, não oficial, marginalizado”, explica o padre e teólogo Luigi Schiavo, professor do Departamento de Ciências da Religião da Universidade Católica de Goiás. “Eles têm grande valor histórico e religioso porque mostram novas interpretações sobre a figura de Jesus na origem do cristianismo”, enfatiza o especialista.


Naquela época não havia um cânone – nome dado ao conjunto oficial de livros que compõem a Bíblia – mas vários textos, cada qual escrito pelas diferentes seitas existentes, que registravam seus próprios valores e crenças sobre a origem do mundo e da vida, sobre Deus e o messias. E havia muitas divergências. Os docetas, por exemplo, negavam a realidade material de Cristo. Consideravam que Jesus possuía um corpo etéreo e que, por isso, não nasceu nem foi morto na cruz e muito menos ressuscitou. Os ebionitas, por sua vez, defendiam que Jesus tinha nascido de forma natural e só depois de batizado é que Deus decidiu adotá-lo. Já os ofitas acreditavam que Caim era o representante espiritual mais elevado. Para eles, a morte de Jesus foi um crime do Universo, mas um evento necessário para a salvação da humanidade.
Um dos grupos mais influentes do cristianismo primitivo foi o dos gnósticos, que adotavam uma vida ascética, negavam a matéria e acreditavam que o conhecimento era o caminho para a salvação. Algumas facções também defendiam que Deus possuía um princípio masculino e outro feminino. De fato, as mulheres desses grupos atuavam como mestras, líderes e profetisas – uma idéia ainda hoje revolucionária para a Igreja.
E havia também o chamado cristianismo apostólico, baseado nas narrativas dos primeiros discípulos de Jesus. Eles contavam que o messias havia morrido na cruz para salvar a humanidade e aos seguidores cabia a missão de espalhar sua mensagem pelo mundo. Essa tradição começou a ser registrada por volta dos anos 30 e 40 do século 1, em livros como os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João. Esses textos eram lidos por muitos grupos, que os consideravam os relatos mais antigos e precisos da vida de Cristo.
A babel de cristianismos resistiu até o século 2, quando alguns bispos decidiram organizar as Escrituras. “Eles precisavam adotar um cânon definitivo para que a religião pudesse se expandir”, explica o frei Jacir. Mas para isso não adiantava traduzir os textos para várias línguas e divulgá-los entre vários povos. Era preciso aparar as diferenças e chegar a uma espécie de “versão oficial”. Na hora de selecionar os livros, o espírito democrático que permitiu a existência das diferentes versões deu lugar às disputas de poder.



Por uma versão oficial
As igrejas maiores e mais influentes tentaram impor seus textos, o que as menores não aceitavam. Havia debates e acusações mútuas de heresia entre elas. A peleja continuou até o século 4, quando tudo indicava que o cristianismo apostólico iria prevalecer sobre os outros cristianismos. Seus 4 evangelhos já eram populares naquela época e, desde o século 2, eram elogiados pelos pensadores da Igreja. Mas faltava tornar esses livros oficiais.
Foi quando o imperador de Roma, Constantino, entrou em cena e interveio no impasse. Na época, com o império em crise, ele precisava de uma bandeira para justificar a expansão e convencer outros povos a aceitarem seu domínio. E a solução estava numa aliança com os cristãos, que por sua vez desejavam espalhar a mensagem de Jesus mundo afora. “Constantino percebeu que era uma grande oportunidade e decidiu fazer do cristianismo a religião oficial do império”, explica o frei Jacir.

Os cristãos deixaram de ser perseguidos em 313 e apenas 12 anos depois seus bispos foram convocados para o Concílio de Nicéia, primeiro passo dado para a criação do Novo Testamento. Na reunião, os evangelhos de Marcos, Lucas, Mateus e João foram escolhidos para narrar a biografia de Jesus por uma razão simples: expressavam a visão dominante na Igreja. E todos os demais foram considerados apócrifos, falsos e perigosos para o estabelecimento do novo livro.

Começou, então, a perseguição a todos que ousavam discordar da recém-formulada Escritura Sagrada. Os gnósticos, docetas, ebionitas e ofitas foram acusados de heresia. Os que insistiam em desrespeitar o cânon eram punidos com a excomunhão ou a morte. Dezenas de livros – ou centenas, já que ninguém sabe ao certo quantos eram – foram destruídos ou queimados. Foi nessa época que alguém decidiu esconder 13 volumes numa gruta, na aldeia de Nag Hammadi, no alto Egito – talvez um cristão perseguido ou um monge do Mosteiro de São Pacômio, que ficava ali perto. Eram evangelhos, cartas e atos dos apóstolos escritos em copta, língua falada pelos cristãos do Egito. O tesouro só foi descoberto 16 séculos depois, por aquele pastor que apresentamos lá no começo, e hoje está no Museu Copta do Cairo, à disposição do público.

O legado
Além desses, muitos outros apócrifos foram excluídos da Bíblia. É o caso dos Manuscritos do Mar Morto, descobertos em 1947, que apresentam cópias de livros do Antigo Testamento, deixadas pela seita judaica dos essênios. E do Evangelho Segundo Judas, descoberto na década de 1970, que conta uma história diferente sobre o discípulo que traiu Jesus. No total, são mais de 100 livros de valor inquestionável para os estudiosos das Escrituras. “São documentos essenciais para compreender a história do cristianismo no 1º e 2º séculos”, afirma o teólogo Paulo Nogueira, professor da Universidade Metodista de São Paulo.
Os apócrifos revelam que o Novo Testamento não nasceu pronto e acabado e que os textos que servem de base para a atual doutrina cristã passaram por um complicado processo de “edição”. Também deixam claro que, ao contrário do que se imaginava, o cristianismo praticado hoje não era o único nos primeiros séculos. Existiam vários cristianismos, cada um com sua própria interpretação da vida de Jesus e seus ensinamentos. Quem lê os escritos deixados por esses grupos pode conhecer outros pontos de vista sobre uma história contada há mais de 2 mil anos.

No entanto, é necessário afrouxar o julgamento antes de mergulhar na leitura. “Devemos compreender esses livros de modo ecumênico e tentando dialogar com os cristianismos de origem”, sugere o frei Jacir. É verdade que esse textos, muitas vezes coloridos e aberrantes, costumam chocar o leitor de primeira viagem. “Mas alguns também podem complementar a nossa fé”, adianta Jacir. Uma prova de que eles não são apenas uma “ameaça” aos cânones da Igreja Católica estão na religiosidade popular e na arte sacra, que buscaram inspiração nas histórias apócrifas. A famosa história dos 3 reis magos que levaram presentes ao menino Jesus e tudo que inspira os presépios natalinos, por exemplo, vêm dos evangelhos apócrifos.



Magdala, a favorita de Jesus
Apócrifos revelam que Maria despertava o ciúme dos apóstolos e que Jesus a beijava na boca
Maria Madalena – ou Miriam de Magdala, como está no hebraico – aparece nos apócrifos como uma mulher sábia e respeitada por Jesus. Ela acompanha o mestre em suas pregações e o ajuda a liderar os primeiros cristãos. O Evangelho de Filipe, do século 2, conta que ela era a seguidora preferida de Cristo, o que despertou o ciúme dos outros apóstolos. “Por que a amas mais que a todos nós?”, perguntavam eles ao Senhor. Uma passagem que ainda enfurece muitos cristãos diz que "o Senhor amava Maria mais do que a todos os discípulos e a beijava freqüentemente na boca". A liderança de Madalena também é mencionada no evangelho apócrifo que leva seu nome, também do século 2. Numa passagem, Pedro questiona: “Devemos mudar nossos hábitos e escutarmos todos essa mulher?” O texto revela que, apesar dos preconceitos, ela consegue se impor. É uma imagem distante da mulher impura e pecadora que a tradição da Igreja enfatizou durante séculos. Em 1969, o Vaticano reconheceu que houve uma confusão na interpretação das Escrituras (ela teria sido confundida com a pecadora que unge os pés de Jesus no Evangelho de Lucas) e retirou a denominação de prostituta que durante séculos pesou sobre Maria Madalena.



A redenção de Judas
Judas teria entregue Jesus a seu pedido
A história do discípulo que traiu seu mestre por 30 moedas de prata é uma das mais conhecidas do cristianismo. Segundo o Evangelho de Judas – um manuscrito copta (língua falada pelos antigos egípcios) escrito entre os séculos 3 e 4 – o apóstolo pode ter sido condenado injustamente pela história. No texto, descoberto nos anos 70, no Egito, o personagem mais odiado do cristianismo aparece como o discípulo mais próximo e querido de Jesus. Ele denuncia o mestre às autoridades romanas a pedido do próprio Messias, num plano que seria essencial em sua missão de salvar a humanidade. “Nesse contexto, a figura de Judas representa o ideal do discípulo que, recebida a iluminação, cumpre a vontade de Deus, mesmo que ela tenha a ver com a entrega de Jesus à morte”, diz o teólogo Luigi Schiavo. Na versão do Novo Testamento, Judas enforca-se, arrependido. No texto apócrifo é diferente. Ao compreender a importância de sua missão, Judas teria se retirado para meditar no deserto. Documento Completo AQUI



A infância de Cristo
Evangelhos mostram lado humano e divino
A literatura apócrifa conta várias histórias sobre a gravidez de Maria e os primeiros anos de vida de Jesus. É uma tentativa de preencher a lacuna da Bíblia, que faz uma única referência à infância do Messias, quando ele visita o Templo de Jerusalém, aos 12 anos. O Evangelho do Pseudo-Mateus, do século 3, conta que o menino fazia milagres ainda na barriga da mãe e que, desde criança, usava seus poderes para curar doentes e ressuscitar os mortos. Mas, quando irritado, ele se comportava como uma criança mimada e vingativa. Certo dia, um menino o derrubou no chão. Jesus então ordenou: “Caia morto!”, e o amigo morreu. Depois, arrependido, o fez ressuscitar. Um de seus passatempos preferidos seria criar seres de barro e lhes dar vida com um sopro. Essa faceta de Jesus pode assustar quem lê os apócrifos. Mas, para teólogo Jacir de Freitas, ela deve ser compreendida no contexto em que o livro foi escrito. “A intenção é mostrar que Jesus tem um lado humano e outro divino, o que é um reflexo de uma época em que a Igreja discutia qual era a natureza do filho de Deus.”


O quinto evangelho
Historiadores acreditam que Evangelho de Tomé seja inspiração de 3 dos canônicos
O Evangelho Segundo Tomé, do apóstolo que precisava “ver para crer”, é o mais polêmico do acervo de Nag Hammadi. O manuscrito contém 114 parábolas e frases atribuídas a Jesus. As citações são semelhantes às da Bíblia, mas refletem o pensamento gnóstico. Nele, Jesus aparece como um mestre mais místico, que orienta os discípulos a reconhecer sua identidade divina e a buscar Deus em qualquer lugar. Ele foi excluído, apesar de ter sido escrito por volta dos anos 60 e 70 do século 1, mesma época dos evangelhos que entraram para o cânone sob a justificativa de serem os relatos mais antigos do messias. Os pesquisadores chamam esse apócrifo de Quinto Evangelho e suspeitam que ele seja o famoso Fonte Q, escrito nunca achado que teria sido a base de 3 dos 4 evangelhos canônicos. Se isso for verdade, os textos bíblicos são adaptações desse apócrifo, dono dos verdadeiros ensinamentos de Cristo.


Extraído Revista Super Interessante

 Revelações do enganoso Evangelho de Judas



Evangelho de Judas, local da descoberta, El Minya, Egito

O apócrifo Evangelho de Judas foi bafejado pela mídia de modo a semear dúvidas em relação à Igreja Católica, em sincronia com a onda de blasfêmias impulsionada pelo romance O Código Da Vinci.

A notícia sobre um papiro, velho de 1.700 anos, deu volta ao mundo com grande orquestração publicitária. O nome do escrito inspira horror: Evangelho de Judas.

O conteúdo é tão ofensivo quanto falso: Judas teria sido o discípulo perfeito do Redentor! O mercador péssimo teria perpetrado a infame traição em combinação com o próprio Filho de Deus! E isso porque Nosso Senhor Jesus Cristo ansiava libertar-se do “invólucro carnal”, segundo pregam as religiões pagãs mais prenhes de panteísmo e gnose.

Um documento sobre esse pseudo-evangelho, dito de Judas, foi emitido pelo National Geographic Channel no Domingo de Ramos, reincidindo no velho costume anticlerical de difundir blasfêmias ou fraudes religiosas durante a Semana Santa.

Porém, bem analisada, a manobra publicitária acaba se voltando contra os seus autores. Pois o estudo sereno do velho papiro fornece, de um lado, uma inesperada confirmação de ensinamentos¬ da Igreja; de outro, esclarece aspectos nebulosos da “autodemolição” da Igreja, de que falou S.S. Paulo VI.

Assim é a santidade da Igreja Católica. Quando seus adversários julgam dar-lhe um golpe formidável, este vira-se contra eles, para maior glorificação da Esposa de Cristo.




Mostra sobre o Evangelho de Judas, National Geographic Society, Washington


Os falsos e milenares papiros encontrados

O Evangelho de Judas consta de 13 folhas escritas frente e verso, em língua copta, tendo poucos parágrafos claramente legíveis. Foi encontrado em 1978 numa caverna de El Minya, no Egito, integrando um conjunto de apócrifos de conotações esotéricas.

Chamam-se apócrifos os livros não-canônicos, ou seja, que não pertencem à Revelação. Há dezenas deles. Alguns aportam dados históricos, muitos contêm graves erros e outros não passam de panfletos mal-intencionados.

Após muitas peripécias — algumas, por certo, bastante obscuras — os papiros chegaram à National Geographic Society, graças à Maecenas Foundation for Ancient Art e ao Waitt Institute for Historical Discovery, que arcaram com os milionários custos de restauração e análise. Os estudos científicos foram efetivados por uma equipe de técnicos especializados em manuscritos coptas. Estes concluíram que as folhas datam dos anos 220-340 da era cristã.

Origem do Evangelho de Judas denunciada por Santo Irineu

Assim sendo, tratar-se-ia de cópia de um apócrifo –– já condenado no ano 180 por Santo Irineu, bispo de Lyon e Padre da Igreja –– do qual não se conservava exemplar algum.


Fragmento do Evangelho de Judas


O próprio Santo Irineu, em sua obra apologética Contra as heresias, transmitiu-nos o conteúdo do fraudulento Evangelho de Judas. Explica o santo bispo de Lyon que, nos tempos apostólicos, houve numerosas tentativas de infiltração de heresias nas comunidades cristãs. Falsos convertidos espalhavam erros e perturbavam a união na fé e na caridade.

O cabeça de tais perturbadores foi Simão, o Mago. Esse feiticeiro quis comprar dos Apóstolos o poder de fazer milagres. São Pedro repeliu-o, dizendo: “Tu estás preso nos laços da iniqüidade” (Atos, 8, 23).

Simão, o Mago, é tido como o “pai das heresias”, e de sua sacrílega tentativa vem o nome do pecado de simonia. Seus seguidores pregavam a velha doutrina da gnose (literalmente: “conhecimento”), segundo a qual os seres teriam sido criados por uma potência maligna ou seriam fruto de alguma desgraça cósmica.

Para os gnósticos, seria bom que os seres deixassem de existir ou se dissolvessem no nada. Em estulta contradição, eles atribuem a esse nada um valor divino. No conhecimento dessa doutrina e dos meios para realizar seu objetivo niilista consiste a essência da gnose — talvez o pior dos erros.

Entre os prosélitos de Simão, o Mago, Santo Irineu aponta a seita dos cainitas. Estes diziam que Caim foi criado por um poder superior. Ademais, julgavam-se irmãos espirituais de Esaú, de Coré, dos habitantes de Sodoma e outros semelhantes.

“E dizem — acrescenta Santo Irineu — que Judas, o traidor, foi o único que conheceu todas estas coisas exatamente, porque só ele entre todos conheceu a verdade, para realizar o mistério da traição [...]. Para isso mostram um livro que eles inventaram, que chamam de Evangelho de Judas”. Santo Irineu conta ter “recolhido esses escritos, nos quais eles incitam a destruir a obra do Criador do Céu e da Terra”.




O Evangelho de Judas faz compreender o oceano de maldade que contém a heresia gnóstica. Pois somente um tal ódio à Criação pode levar a venerar Caim, assassino de seu irmão Abel, o justo, cujo sacrifício era grato a Deus (Gen. 4, 3-15); a cultuar Esaú — figura bíblica dos réprobos —, que vendeu a primogenitura em favor de Jacó, o abençoado pai das doze tribos de Israel (Gen. 25, 29-34); a se identificar com os habitantes de Sodoma, que Deus reduziu a cinzas devido a seu vício inveterado da homossexualidade (Gen. 19); a venerar Coré que, com Datã e Abiron, revoltou-se contra Moisés, tendo a terra os engolido com corpo e alma, junto com todos os seus, enquanto um fogo do Céu consumiu seus ministros (Num. 16, 31-35). Só faltou incluir o culto a Lúcifer...

Esse erro gnóstico atinge toda sua hediondez na exaltação de Judas, o traidor que por 30 míseras moedas vendeu Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo São João, o demônio possuíra a alma de Judas (Jo 13, 2). Nosso Senhor disse do apóstolo traidor que “teria sido melhor que este homem não tivesse nascido” (Mt 26, 24). A esse homem, entretanto, os cainitas atribuíram o Evangelho saído da pluma deles.

O Evangelho de Judas torna patente o ódio a tudo quanto existe, acalentado por essa infiltração herética na Igreja do século de Santo Irineu.

Só desse século?



Trevas do “evangelho” cainita sobre o século XXI

Aqui começa o aspecto talvez mais revelador desse falso evangelho, tão favorecido pela orquestração anticatólica. Esta sugere um como que retorno vitorioso do cainismo, no atual auge de pecado e de desfiguramento da Igreja Católica. O Evangelho de Judas encontrou o terreno psicológico preparado, em largos setores da opinião pública, por sucessivas ofensivas de blasfêmia e de contestação das leis e da disciplina da Igreja. Seria preciso um livro para conter um sumário delas. Basta pensar no movimento gnóstico e neopagão que leva o rótulo de Nova Era. O Código Da Vinci –– novela e filme –– é um dos episódios mais recentes e notórios dessa ofensiva.

Mas, se fosse só isso...

O postulado essencial do Evangelho de Judas vem sendo defendido, com matizações diversas, por teólogos que estão no fulcro da revolução eclesiástica que levou S.S. Paulo VI a afirmar que “a fumaça de Satanás penetrou no templo de Deus”. Expoentes da teologia moderna defendem há décadas uma reabilitação de Judas Iscariotes, forçando uma apresentação dele como instrumento da vontade de Nosso Senhor.

Conseqüência: tentativa de demolição da Igreja

Desde logo, a propaganda desse evangelho apócrifo semeia dúvidas entre os fiéis a respeito da Igreja e das Sagradas Escrituras. Mas, se essa ofensiva continuar, pode ir mais longe. Até onde?


Trabalhos sobre os papiros na Universidade de Arizona

Para responder nos limites de um post, consideremos o que aconteceria se, como querem insinuar tantas manchetes midiáticas, o conteúdo do Evangelho de Judas fosse verídico. Forçosamente, teríamos que concluir que os Evangelistas deturparam o Novo Testamento, pois entenderam mal o verdadeiro ensinamento de Nosso Senhor. Em conseqüência, a Igreja católica seria uma falsa instituição, fundada nesses Evangelhos. Seria necessário que Ela revisse dois mil anos de história e fizesse pública emenda de sua atuação visando a salvação das almas. Em sentido inverso, deveria exaltar o evangelho cainita e tudo o que Ela condenou como heresia, mal ou pecado.

O culto dos santos deveria ser substituído pelo dos heréticos que a Igreja condenou: Lutero esmagaria Santo Inácio, Santa Teresa de Jesus e o Concílio de Trento; Maomé sobrepor-se-ia aos Papas e cruzados santos; Robespierre, a Luís XVI, a Maria Antonieta e aos contra-revolucionários do século XIX; Freud, às santas virgens; Marx, aos mártires do comunismo. No Brasil, a obra de missionários santos como Anchieta deveria ser rejeitada em favor dos costumes idólatras dos índios primitivos, cujo estilo de vida mais lembrasse os errantes filhos de Caim.

A mãe que aborta seu filho estaria mais em consonância com Judas, que ajuda Jesus a se libertar do seu “invólucro carnal” entregando-o à morte cruel e injusta. Outro tanto poder-se-ia dizer dos promotores da eutanásia. Afinal, a tão denunciada “cultura da morte” não estaria mais próxima de uma “cultura cainita”, sintonizada com o Evangelho de Judas? A revolução homossexual não seria a reabilitação de Sodoma, e portanto mais uma vitória reparadora do cainismo?

O caos moral e religioso de nosso século, à luz do Evangelho de Judas, não teria então uma coerência e uma lógica — aliás, uma anti-lógica — pavorosamente estruturada?

Idéia do Evangelho de Judas circulava antes de ser revelada

Em contraposição, alguém poderia argumentar: é árduo julgar que os artífices desse caos atual estivessem compenetrados do espírito e das doutrinas de um pseudo-evangelho, que há 1.700 anos aguardava numa caverna do Egito o momento de ser descoberto.

Eis outro dos enigmas a respeito do qual este evangelho gnóstico levanta uma ponta de véu. Nos anos 1970, Paulo Coelho e Raul Seixas compuseram a música Judas. Nela cantavam a idéia central do papiro, hoje sob os holofotes: “Parte de um plano secreto, / amigo fiel de Jesus, / eu fui escolhido por ele / para pregá-lo na cruz”.(3) Em 1973, na ópera-rock Jesus Cristo Superstar, Judas cantava: “Realmente não vim aqui por minha própria vontade”. Em 1977 o mesmo conceito apareceu na novela de Taylor Caldwell, Eu, Judas.(4) Exemplos sintomáticos como estes abundam na cultura rock ou contestatária e no progressismo mais avançado.

Como esses autores chegaram a tal sintonia profunda com o Evangelho de Judas? Não sei. Apenas constato sua concordância, superando um espaço temporal de séculos. Mas, sobretudo, verifico que entre o espírito da “autodemolição” da Igreja e, na ordem temporal, a Revolução Cultural, existe uma afinidade com a filosofia desse anti-evangelho gnóstico.