Vamos ao passo-a-passo a mais um episódio sobre Zumbi, desta feita falaremos sobre o Zumbi Padre!
O Zumbi padre foi uma das esculturas que mais me impressionou pelo ganho de “vida” (num zumbi isso soa como piada) que deu na fase da pintura. Realmente, è normal a peça dar um up quando a gente pinta, mas no padre, isso foi surpreendente. Outra coisa que eu gostei no padre é que ele foi relativamente simples de pintar, já que a batina é um preto contínuo. Eu tinha a opção de fazer ela meio surrada, meio suja, mas achei que seria maneiro estabelecer um contraste nesse zumbi. Então temos uma parte corpórea totalmente degradada, quase uma múmia em decomposição e a roupa ainda impecável. Na história desse zumbi, isso faz um certo sentido, porque ele ficou preso na igreja e virou zumbi por lá. Sem estar exposto ao tempo, só estragou o que era realmente perecível, como a carne dele.
Como esta peça tem uma particularidade, que é a roupa minimalista, eu pude ousar mais em termos de detalhes de pintura e acabamento na cabeça. Para estudo, essa se revelou uma ótima peça, porque você não perde tempo desnecessário com pintura de roupa e vai direto aos finalmentes no rosto do zumbi. A roupa simples contrasta e conduz a atenção na peça direto para a expressão. E é legal, porque ele não tem uma expressão de ódio ou de frenesi que muitos zumbis tem. Ele tem uma cara assim, como quem sofre, como quem esta meio perdido… Acho que consegui transmitir no olhar do zumbi uma certa inocência e fragilidade e a pintura ajudou a mostrar isso.
Bom, quando eu tirei a peça da base, vi que a minha ideia de deixar ele meio corcunda, inclinado para frente tinha sido um tiro no pé, já que sem o suporte a peça não se sustentava sozinha sobre a mesa, tendendo a cair de cara pra frente. Solucionei isso cortando um um ângulo sutil a parte de trás da peça, e fiz também um pequeno complemento de cerca de 5mm de altura na peça toda. Como efeito disso, ela cresceu, mas estabilizou. Quando eu cortei a base, percebi que a massa estava ainda bastante frágil, indicando que não havia atingido o ponto do assamento. Levei para assar de novo e ele ficou bem mais queimadinho, e duro. Também fiz uns ajustes menores com epoxi na peça.
Também rachou perto da cabeça, mas eu consegui resolver com epoxi. A primeira coisa que eu fiz foi meter um pretão acetinado na peça, sobretudo na batina.
Posteriormente ao preto uniforme na peça que eu sempre faço, pintei com tinta acrílica branca a parte de pele.
Essa preparação é importante, porque os acrílicos que eu uso tem a característica de aquarelar, então vão sendo depositados em camadas translucidas, o que permite efeitos interessantes, mas se a cor de base é escura isso vira contra o pintor.
O passo seguinte é pintar a pele do zumbi. Eu não fotografei esta parte, porque e estava muito ocupado pintando e esqueci completamente.
Quando eu achei que a cabeça estava legal, passei para a parte mais difícil de pintar nesta peça, que é a cordinha do crucifixo. Para pintá-la pintei de branco em toda a volta da cordinha, o que sujou a batina, óbvio, até porque minha firmeza não é lá essas coisas. Eu tremo mais que baiano no frio. Depois que pintei de branco, fiz uma tinta marrom e pintei por cima. Depois, com um pincel muito fino que uso para detalhes, fui cobrindo os borrões na batina com preto, até ficar uniforme novamente. Esta parte deu um trabalho danado. O crucifixo foi feito com tinta prata, pintada com pincel seco para ficar ainda reentrâncias escuras nele parecendo prata velha. Pintei os botões com verniz brilhante e assim eles ficaram parecendo de plástico.
A etapa final foi fazer as minhoquinhas. Eu fiz com durepoxi mesmo, modelando com um instrumental de dentista. Essa foi a parte mais divertida.
Depois, pintei elas com cuidado, usando uma tinta de cor creme. Aí apliquei o verniz brilhante ara dar aquele aspecto “molhadinho”, bem gostoso.
Notou aquela cultura bacteriana brotando do canto da boca? Isso acontece mesmo!