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19 de fev. de 2012

BONITO É SE LHE PARECE ou AS DESVENTURAS DE JOÃO TIMBÚ.



BONITO É SE LHE PARECE
ou
AS DESVENTURAS DE JOÃO TIMBÚ.



Deus-Nos’senhor tem no mundo
– seu terreiro – variada natureza,
do jacaré até a flor.
Alguns com muita formosura,
alinhados e bem faceiros,
outros, coitados, só de olhar dá gastura.
O capricho do destino quis João Timbú,
desde menino, feio do jeito que era,
gostar de uma formosa moça
bonita e rubeculosa, a filha de Manuela.
De batismo era Edinalva,
Porém, Dadinha ela se chamava.
Tinha os cabelos mais pretos
que a crina da égua de Dona Edjenalda.
Os olhos puxados nos cantos, com aquela cor trigueira,
era a menina um encanto, cara de curumim faceira.
Vivia nos “trinques”.
Botava roupa elegante, já na segunda feira.
Timbú...,  era um  “malamanhado”, tinha umas “venta de boi”,
os olhos “aboticados”, o cabelo era ruim,
parecia ninho de rolinha,
amava Dadinha.
Oh! Coitado. Sofria grande dor, pois,
sabia, a pequena tinha esplendor.
Ele, por sua vez, se achava desgraçado,
incapaz de declarar seu amor.
Desde menino sofria a sina.
Ainda mal se arrastava, ia em busca de Dadinha
como quem não queria nada, num mar de inocência, todo exibido e feliz.
Carregava os chinelos de Dadinha quando ficou maiorzinho.
O tempo passava...
Timbú com seu jeito desconfiado,
era campeão de bandeira e “bila”.
E Dadinha dando... de crescer o corpo.
O amor de Timbú ela  notava!
Brincava com seus sentimentos de Romeu.
Escravizava o enfeitiçado,
obrigava fazer “de um, o tudo” pra ela:
levar recado, encher os potes, pilar o milho
e torrar o café, depois o humilhava.
E o besta voltava e fazia tudo novamente,
bastava ela dar-lhe uma piscadela,
alisar-lhe o cabelo, rebolar maliciosa,
era a criatura mais venenosa, leviana e vaidosa.
Ele, porém a achava, linda graciosa, a mais perfeita donzela.
Brincavam de cair no poço, era quando Timbú escapulia,
pois, naquele coração moço sentia uma facada danada,
quando Dadinha caía e a outro ela beijava.
Quando era noite de fogueira, mês de Maria, toda faceira,
Dadinha parecia um tesouro.
Não carecia perfume de loja, tampouco viver coberta de ouro.
Seu vestido de chita, bem cintado na cintura,
mostrava a todo mundo, o tamanho da criatura.
Mesmo sem usar loção, seu cheiro era gostoso
fazia Timbú sentir até tontura.
Timbú era soltador de fogos, para tal tinha desenvoltura.
No coração, porém, abrigava grande mágoa,
era triste saber que amava uma moça impura,
era o que todos diziam:
- Depois da novena, namora o primeiro que lhe passar a mão na cintura.
- Homem! Sai dessa, procure outra que lhe queira essa aí é uma fuleira.
Cada vez mais, o infeliz nutria um amor desmedido.
Tinha uma fé pia, um dia Dadinha lhe amaria.
Como nas tortas linhas da Criação, o caminho é espinhoso,
achou Dadinha de arranjar um esposo.
Gente de fora do lugarejo!
Timbú partiu para o Sul, por desgosto e precisão.
Virou operário padrão, ganhou dinheiro e confiança do patrão,
casou, fez filhos e comprou carro.
Voltou com festa, toca-fitas e óculos ray-ban.
Homem de posses.
Botou comércio, entrou pra política, foi ser prefeito.
Dadinha ficou banguela,
uma penca de filhos para criar e ser guia da cega Manuela.
Porém, vez por outra Timbú sente uma pontada na espinha,
quando Dadinha lhe dá aquela piscadela.
Pensa! Quanto Dadinha lhe machucou o coração.
Agora sabe que das voltas que o mundo dar,
melhor é se colocar na outra situação,
quem julga aparência e aposta na vaidade,
pode viver, um dia, uma grande decepção.

Geraldo Bernardo - Escritor e poeta