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15 de fev. de 2012

12 músicas de sucesso à base de sons esquisitos que grudaram na nossa cabeça


O sertanejo universitário, como diria Raul Gil, conquistou o Brasil. Quer você queira, quer não, essa birosca faz o maior sucesso, seja com o Michel “Ai se eu te pego” Teló ou com o formidável Gusttavo Lima. Por que dos dois ‘t’? Bem, eu não sei se é numerologia, criatividade de mãe ou do empresário, mas o seu grande sucesso diz muito sobre ele: “Tchê Tchê Rere” (vulgo “Balada boa”) é um clássico exemplo de melodia popular baseada em sons genéricos e onomatopaicos, que não necessariamente fazem sentido. Quer lembrar mais 12 sucessos que seguem a mesma linha? Não? Problema seu, porque o Puxa Cachorra! os listou mesmo assim.



12 – Anarriê – Leandro e Leonardo

Mote: Festa Junina
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Anarriê
Estrofe onde se encontra: Anarriê, Anarriê, Tem rojão pra todo lado e eu no escurinho com você, Anarriê, Anarriê, Morena tome cuidado que seu pai não pode ver

Porque está na lista? Começando com um precursor do “Tchê Tchê Rere”. Essa melodia do Leonardo fala das mesmas coisas que todo o sertanejo universitário: balada, cerveja, mulher e pegação. Só que nessa época, as músicas para animar eram calcadas no country. 

Tem algum sentido? Country americano faz todo sentido com o mote de música de festa junina, claro. E o Anarriê, enfim, pra nada serve na música além de grudar na nossa cabeça...



11 – Conquista - Claudinho e Buchecha

Mote: Xaveco furado
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: tchurururu
Estrofe onde se encontra: Sabe, o Thurururu, Estou louco prá te ver, Oh yes! Cabe, Thurururu, Entre nós dois, um querer.

Porque está na lista? Continuando com a sequência de duplas póstumas (humor afrodescendente detected), lembro-os desse que foi o primeiro sucesso desses caras. Não sei se o que é pior: a música ou saber que esse foi apenas o primeiro... de qualquer forma, é a clássica música do tchurururu (como se fosse a única com esse recurso) e do passinho do Dino. Não conhece o passinho do Dino? É porque você tem menos de 25 anos, provavelmente.

Tem algum sentido? Música com tchururu é ruim. Música com “passinho” consegue ser pior ainda... as duas coisas juntas num funk é motivo de prisão perpétua.


PS: E pra quem não conhece, o episódio completo da Dança do Acasalamento:



10 - Ai, Ai, Ai - Vanessa da Mata

Mote: Hipoteticamente, seria o amor... efetivamente parece o mundo hippie da dor
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: A principal é “ai”
Estrofe onde se encontra: Ai, ai, ai, ai, ai, ai, Ai, ai, ai, ai, ai, ai, Aaaaaaai!

Porque está na lista? Pra não dizerem que somos elitistas, tai um grande hit nas rodinhas de universitários descolados. Vanessa da Mata por algum motivo faz um tremendo sucesso junto a esse público, talvez pelo ar hippie. De fato, “Ai, Ai, Ai” foi um sucesso estrondoso, mesmo sendo toda calcada nesse maldito gemido. A letra em si não diz nada melhor que as dos sertanejos, mas a ode à vida simples, cachoeira e mato conquistou a galerinha que costuma frequentar São Tomé das Letras. Só que a moça nem é original! Ela segue a fórmula de vários sucessos que existem por aí, desde “Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora”, até o tenebroso funk “ai, ai, ai, ui, ui”. Ai é um dos sons mais repetidos da historia da música.

Tem algum sentido? O pior é que ela chega a exagerar, com outras onomatopeias sem sentido como “Tchunanananã! Ná Nã Nã!” Não tem nada a ver com o mundo do amor hippie que ela apresenta, só se ele estiver cheio de dor. Ainda assim, pelo menos, ela não usa o clássico “oooooo”, como em “Bom-Bocado”, do Art Popular.



 9 - Bom-Bocado - Art Popular

Mote: Trocadilhos infames
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: “ai ai ai ai” e “oooo”
Estrofe onde se encontra: Ai ai ai ai, ai ai ai ai, oooo, Ai ai ai ai, ai ai ai ai, ai, ai, ai ai

Porque está na lista? É claro que essa beleza tinha que estar aqui. Ela povoa meus pesadelos desde que foi lançada, em meados dos anos noventa. É o tipo de coisa que gruda de um jeito tão violento na sua cabeça que não tem quase jeito de tirar. E eles usam o combo “Ai ai ai ai” e “ooooo”, uma das mais clássicas e eficientes encheções de linguiça da música.

Tem algum sentido? O resto da letra não ajuda, com uma sequência vergonhosa de gracinhas que beiram o ridículo, como “Boto a mão no bolo pra comemorar/Pra te comemorar, pra te comemorar”. O Art Popular fez ainda outros vários sucessos tão tenebrosos quanto esse, mas felizmente acabou... acho...



8 - Depois da queda o coice - Os Paralamas do Sucesso

Mote: Filtro solar
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: “hey! na na na”
Estrofe onde se encontra: “hey! na na na, hey! na na na, hey! na na na” (repita 42 vezes)

Porque está na lista? Nós do Puxa somos como a Luciana Gimenez: adoramos polêmicas. E nada melhor que desconstruir baluartes da música, como os roqueiros do Paralamas. O “Na na na” é outro clássico da encheção de lingüiça, desde os Beatles – nem vem reclamar: metade de “Hey Jude” é na na na! – mas o problema é o resto da letra, que parece querer dizer algo, mas gira em círculos.

Tem algum sentido? Não sei o que o Herbert Vianna tinha usado quando compôs “Depois da queda o coice”, mas mesmo a referência a Gil e Brown não se mostram profícuas em tentar entender o que raios essa música quer realmente dizer, se é que quer dizer algo. É o típico pedantismo de poesia abstrata e supostamente complexa produzida por gente como Pedro Bial. Se você tira a frescura da música, sobra uma letra de autoajuda, sobre se reerguer depois de tempos difíceis. No fim, de nada adianta, pois a maioria do pessoal só lembra do “hey, na, na , na”. Tanto que é exatamente esse o nome do disco que contém essa melodia. Se for pra me animar a recuperar-me de uma queda, prefiro ouvir “Beber, cair e levantar”... pelo menos não é pedante.



7 – Dança do Créu – MC Créu

Mote: Coito
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Créu
Estrofe onde se encontra: todos

Porque está na lista? Onomatopeias para sexo existem de monte, e esse é um dos mais clássicos, até a Alcione usou essa. Mas o MC Créu elevou essa gíria a enésima potência, definindo-a como centro de sua “canção” e ainda atribuindo-a “velocidades”, que definem a dificuldade do ato. E, como boa parte das músicas dessa lista, essa bagaça toda é constituída por apenas mais uma meia dúzia de palavras além de Créu.

Tem algum sentido? Se você tem mais de 10 anos e sabe do que creu é sinônimo, você entenderá essa “composição” facilmente. E conseguirá compor algo melhor...



6 - Era Um Garoto – Os Incríveis

Mote: Guerra do Vietnã
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: ratatatatatatatatatatatatatatata (até onde a metralhadora, ou o seu saco, aguentar)
Estrofe onde se encontra: Posso considerar isso uma estrofe?

Porque está na lista? Versão em português de “C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones" de Gianni Morandi (valeu Wikipedia) , a versão em português é bem mais antiga do que alguns imaginam, com Os Incríveis (não, não os da Pixar), nos idos da Jovem Guarda. Depois fez sucesso quando foi regravada pela pior banda do universo, os Engenheiros do Hawaii, que nada mais fez que um cover igualzinho ao d’Os Incríveis, mas mais sem sal. O fato é que a música tem uma letra de protesto, que o povo sabe de cor, mas em geral a graça tá na ininterrupta saraivada de tiros que polui uns 60% da música. 

Tem algum sentido? Se você sabe a relação entre ser um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones com a Guerra do Vietnã, sim. Senão, vai estudar história e para de ler isso fica só a irritante saraivada de balas. Ela pode ser estendida infinitamente, até você querer dar um tiro na própria cabeça. Só não é mais irritante música que simula tiros porque existe o quinto lugar dessa lista.



5 - Rap das Armas - Cidinho e Doca

Mote: CV
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Parapapapapapapapapa
Estrofe onde se encontra: Parapapapapapapapapa, Paparapaparapapara clack bum, Parapapapapapapapapa

Porque está na lista? Esse funk explodiu por causa de sua utilização no filme Tropa de Elite, e caiu no gosto popular. Mas, na verdade, ele é bem velhinho, é de 1995 e não é dos referidos MCs, mas sim de MC Junior e Leonardo (valeu de novo Wikipedia). De qualquer forma, é tão, mas tão pegajosa a sequência do Parapapapapapapapapa que essa música virou hit em vários países e ganhou versões em grego, alemão e é hit até em Israel! Todo isso por causa da bendita onomatopeia dos tiros. 

Tem algum sentido? O que nos lembra que a tal música é uma ode ao crime organizado... e mesmo assim faz um sucesso danado, por que ninguém se importa com a letra, só com o Parapapapapapapapapa. Pra quem acha que Michel Teló é um fenômeno, perto do “Rap das Armas” ele ainda é só uma modinha.



4 - Cara Caramba, Sou Camaleão - Chiclete Com Banana

Mote: Verão em Salvador
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Cara caramba cara caraô!
Estrofe onde se encontra: Cara caramba cara caraô! Cara caramba cara caraô!

Porque está na lista? Um verdadeiro clássico da música baiana. É um dos axés mais antigos que se tem notícia, servindo de referência pra quase todos os seguintes. Sem “Cara Caramba” não existiriam É o Tchan, Jamil e uma Noites, Cláudia Leite, Ivete Sangallo. Só pelos filhotes, já se configura como um desserviço à música brasileira.

Tem algum sentido? Essa música fala do mesmo que a próxima: do verão e de Salvador. Na verdade toda a carreira do Chiclete com Banana é isso, fazer um carnaval que fala de verão e Salvador. Mas é impressionante como essa porcaria gruda na cabeça, como ela proliferou e sustentou a carreira desses caras por tanto tempo. Mas fala a verdade: no fundo, você também tem um pouco de chicleteiro dentro de si. Por isso divirta-se com 10 minutos de Chiclete!



3 – Prefixo de Verão - Banda Mel

Mote: Verão em Salvador
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: “aê”, “ei”, e “ô”
Estrofe onde se encontra: Ae, ae, ae, ae, Ei, ei, ei, ei, Oô, oô, oô, oô, oô, oô, o

Porque está na lista? Uma vez meu pai, que é um senhor, digamos, sagaz, afirmou que essa música é o maior exemplo do porque o axé é ruim. Em respeito a ele essa pérola não podia faltar.

Tem algum sentido? Diga-me, meu caríssimo leitor: se você só tivesse lido o nome da música, você não faria ideia de que música é essa, certo? Eu mesmo demorei quase uma hora pra achar o nome dessa porcaria, porque não lembrava nada dela além do famigerado refrão. Até que resolvi colocar ao lado dos “Aês” e “Os” a expressão “Salve Salvador”, e acabei achando. E acho que isso resume quase todo o axé: um amontoado de vogais sem sentido algum, pronunciadas ininterruptamente pra louvar Salvador. Se eu quisesse louvar Salvador eu ia pra igreja...



2 – Ilariê – Xuxa

Mote: Dance com a Rainha dos Baixinhos!
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Ilariê
Estrofe onde se encontra: Ilari-ilariê! ô ô ô! Ilari-ilariê! ô ô ô! Ilari-ilari-ilariê! ô ô ô! É a turma da Xuxa que vai dando seu amor!

Porque está na lista? Essa composição magistral de Cid Guerreiro é o carro chefe da “carreira musical” (Beethoven puxará meu pé à noite por isso) da senhora Meneghel. Ainda hoje, mesmo a Xuxa sendo uma anciã e tendo cometido diversos outros crimes na sua carreira, essa é a sua “música” mais lembrada, principalmente em (1) aniversários, (2) festas estilo flashback, (3) formaturas. Isso já demonstra a praga que é “Ilariê”. Pra que armas de destruição em massa quando temos além do Gusttavo Lima e do Miguel Teló a Xuxa?

Tem algum sentido? Ela, como todo axé, tem uma sequência de sons sem sentido, usada apenas pra que a rima com a palavra “amor” exista. Segue o mesmo princípio de rimas com “Salvador”, ou seja, é de uma pobreza inominável.



1 – Shimbalaiê – Maria Gadú

Mote: O espírito pós-moderno-hippie-chic da natureza
Palavra, som, onomatopeia ou neologismo: Shimbalaiê
Estrofe onde se encontra: Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar, Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar (2x)

Porque está na lista? Essa criatura que atende pelo nome de Maria Gadú caiu nas graças de mídia, público, MPB, noveleiros e alunos da FFLCH. Seu primeiro sucesso, “Shimbalaiê”, é insosso. Mas, fazer o quê, tem tudo que um bom culturete gosta...

Tem algum sentido? Diga-me: o que é o tal Shimbalaiê? Segundo a santa Wikipédia, Ximbhalaijè poderia ser traduzida assim: Ximbha (natureza, meio ambiente) - Laijè (alma, deus, espírito). Seria, assim, o espírito da natureza, nada mais hippie, portanto. Mas duvido que, em sã consciência, as pessoas que alçaram essa criatura ao estrelato achem que isso tem algum sentido. Na verdade, pra mim, Shimbalaiê era apenas outra sequência de sons sem sentido, imitando um chocalho ou algo do gênero. Descobrir que isso tem algum sentido é o que não faz sentido. E pior que uma sequência de sons aleatória pra encher linguiça, pra gerar duplo sentido ou usada como onomatopeia, é uma sequência de sons que realmente quer dizer algo, mas soa só como uma sequência aleatória de sons. Simplesmente fail.