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31 de out. de 2011

Hábitos que a tecnologia tornou obsoletos


Por mais que as mudanças em nossas vidas sejam incrivelmente rápidas hoje em dia, é comum que não percebamos quando elas acontecem. Pouca gente sabe a data exata em que usou um disquete pela última vez, e duvido que uma fração significativa dos leitores lembre quando abriu uma enciclopédia sem ser por saudosismo.
Observar essas mudanças é complicado, pois sem um distanciamento histórico, a maioria dos eventos perde o seu significado. Nem Heródoto no meio da praça no Egito conseguiria entender tudo que estava acontecendo, na Revolução de 2011. Mesmo assim pensando um pouco dá para identificar 3 coisas que ninguém mais faz, ao menos ninguém moderninho descolado, geek e que vive em países com luz elétrica e água encanada. Vejamos eles:

1 – Se perder

Isso. Simples assim. Eu tenho um problema sério de me localizar. Meu senso de direção é nulo. Levo de 15 a 20 vezes até aprender um caminho, e de vez em quando erro. Até hoje preciso parar para pensar antes de nomear uma rua no Centro do Rio. Qualquer viagem –e por viagem entenda sair do bairro- significava horas consultando Guia Rex, um negócio antigo com usa usabilidade tão boa quanto aquele livro que grita em Harry Potter.

Cidades estrangeiras –e por cidade estrangeira entenda tudo que não seja Rio de Janeiro- eram um terror. Eu era forçado a me voltar contra todos os instintos básicos cimentados por milhões de anos de evolução masculina, e perguntar o caminho, repetidas vezes.

Hoje isso acabou. Primeiro foram os mapas escaneados e jogados no Palm, depois as aplicações que se posicionavam via triangulação de torres de telefonia, e ao final, o GPS. Ferramentas como o Google Maps e o Bing conseguem dizer exatamente onde estou, para onde quero ir, traçam o caminho, indicam os vários meios de transporte e mostram até a portaria do prédio.

Para quem conseguiu se perder na garagem de um hotel, não ter medo de se localizar em qualquer lugar do mundo civilizado, achar qualquer bar, teatro ou cinema é maravilhoso, é ficção científica!

2 – Descobrir filme no cinema

Até o final dos anos 80 existiam duas formas de saber que um filme estava em cartaz: Ver a chamada no Fantástico ou ler os anúncios no segundo caderno dos jornais. No máximo um comercial de 15 segundos, onde tínhamos uma idéia bem vaga do enredo. O gráfico de bilheteria dos filmes era completamente diferente do atual, ao menos no Brasil, onde não havia grande campanha de lançamento. O boba-a-boca era essencial, as pessoas iam ver filmes recomendados por amigos.

Hoje há filmes que postam os 20 primeiros minutos na Internet. Outros enchem a web de trailers, entrevistas, posts de blog detalhando a história, vlogs do diretor, imagens, joguinhos de iPhone, etc, etc e etc. Poucos diretores conseguem manter seu trabalho oculto sem que o público perca o interesse. J.J. Abrams é um desses. Com Cloverfield a Internet foi pisoteada por uma campanha que durou meses, onde basicamente NADA do filme foi mostrado. Em Star Trek, a mesma coisa. Nada de 15 trailers, exbição para críticos antes do filme estar finalizado, nada.

Isso tem o bom efeito colateral de não saturar o espectador de informação, e não tirar o impacto das grandes cenas, que sequer deveriam ir pro trailer.

Antigamente era comum chegar no cinema, olhar os cartazes e decidir qual filme assistir. Hoje é impensável, ninguém fala “vamos ao cinema?” sem ter perfeita idéia do que vai assistir. Já saímos com ingresso comprado, resenhas lidas no Rotten Tomatoes, pesquisa no IMDB sobre o elenco e equipe, trailers, featurettes, entrevistas assistidos.

Por mais que o lado saudosista e romântico grite, hoje em dia é muito melhor. Se você não quiser ser atolado de informações sobre um filme, não seja. A cena pós-créditos de Capitão América está na Internet faz tempo, pergunte se cliquei pra ver.

Poder chegar no cinema com tranquilidade, comprar a pipoca, o refrigerante, o frango assado e o purê de batatas, ir pro assento com calma sem correr desesperado para evitar que um bando de adolescentes hiperativos roube os melhores lugares, isso não tem preço.

Não tem preço mas se for em 3D custa o dobro.

3 – Ligações Telefônicas Casuais

Antigamente dava na elha e ligava-se pra um amigo perguntando das novidades. Como o telefone era o único meio de contato, notícias triviais não se propagavam bem, Douglas Adams já deixou claro que as más-notícias é que são a coisa mais rápida do Universo. Assim se seu amigo foi devorado por um Leão-Marinho, você fica sabendo. Se ele comprou o álbum importado do Dire Straits que você era doido pra copiar (em K7, estamos falando do passado) só saberá meses depois.

Por isso ligávamos casualmente, pra jogar conversa fora.

Hoje o “e aí, quais as novidades?” se tornou algo desagradável. Temos Twitter, Tumblr, Facebook, Google+, Email, ICQ (ok, ICQ ninguém mais tem), MSN, Gtalk, Orkut e mais umas 200 redes sociais. Publicamos tudo de nossas vidas, mas mesmo assim há chatos que aparecem num MSN da vida e perguntam “que manda de novo?” Eu até responderia o que mando, mas este é um portal de tecnologia de família.

O telefone é uma ferramenta cada vez menos e melhor usada. Toda a conversa casual migrou pra Internet, onde podemos (em teoria) fazer duas coisas ao mesmo tempo, mantendo janelas com Twitter e Instant Messengers, enquanto (é preciso reforçar o “em teoria”) trabalhamos na janela principal.

O pessoal mais velho tem dificuldade com esse conceito. Conheço gente cuja mãe liga a cada dez minutos, para falar… nada. Questões simples que seriam resolvidas via Twitter ou IM, mas que interrompem a cadeia de pensamento, e no final, irritam.

Já o pessoal mais novo considera o Smartphone tudo menos um… telefone. Fazer chamadas é apenas a 4ª atividade mais popular para os donos desses aparelhos, segundo uma pesquisa que revelou que apenas 43% dos donos os usam para… telefonar.

Vivemos um tempo em que nossos hábitos são alterados pela tecnologia disponível, mas como essa tecnologia não é absorvida de forma uniforme por todo mundo, temos que conviver com todo tipo de comportamento, do sujeito que se recusa a usar telefone, pois tem Gtalk ao cidadão que envia um SMS dizendo “liga pra mim” pra em seguida perguntar um número de telefone ou algo que poderia ser resolvido no primeiro SMS.

E nem cheguei no clássico telefonema “recebeu meu email?”.

O mundo muda, e hoje em dia muito mais rápido do que em qualquer era. A lição que precisamos tirar disso é que se recusar a mudar com o mundo é ruim, mas achar que ele não muda também não é nada bom

Fonte: TechTudo