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22 de jul. de 2011

A crônica que não foi lida

Evilásio Marques Pinto



A  


que não foi lida - Prefácio

Eilzo Matos
Tenho em mãos os originais em dois volumes de um trabalho elaborado por Evilásio Marques Pinto, que trata do resgate literário de aspecto interessante da memória sócio-cultural da nossa cidade de Sousa: o jornalismo de uma época.
Meticuloso e cuidadoso como fazia o seu falecido pai, o emérito Professor Virgílio Pinto de Aragão, em relação à vida de sua cidade, narrada e descrita em textos e documentos, Evilásio assume a herança intelectual, elabora o seu livro. O título da obra “A Crônica Que Não Foi Lida”, alude a fatos destacados pela sua reconhecida importância, quando aconteceram, reais, dominando, certamente, o painel das idéias da nossa urbe, da nossa gente, e supostamente guardados.
Não se tendo tornado os fatos convencionalmente públicos, isto é, através do seu Serviço de Alto-Falante Voz da Mocidade – modo e meio competente na época –, sabiam os interessados, que tais lembranças desa-pareceriam com a memória pessoal de cada um. Para sorte de todos, Evilásio quer salvá-los, levá-los mais longe no tempo, reduzindo-os à forma escrita e impressa. Pois aqui está o livro, revelando as “crônicas não lidas”, este veraz e delicioso saltério sousense.

Farta é a documentação reunida em textos autênticos colhidos pelo serviço de alto-falantes, que tratam do cotidiano de uma comunidade como outras: da administração pública, das atividades empresariais urbanas e rurais, da educação, da cultura, da saúde, do urbanismo, do esporte, do lazer, da política, enfim. Oportuno o esforço, melhor o resultado. Inclusive a reprodução de jornais do passado, e a Portaria 65 do Serviço de Censura e Diversões Públicas, autorizando o funcionamento da “Voz da Mocidade”, com estatuto publicado no Diário Oficial, devidamente apresentado no Cartório do Registro de Títulos, tudo com data e chancela. Como não? Posso afirmá-lo como sousense, contemporâneo das vivas ocorrências, e está no livro, para conhecimento geral.

O autor goza entre os seus conterrâneos o prestígio de iniciativas e realizações no ambiente da cultura, criando um cadastro de dados acessível à população, podemos dizer. A sua vocação para o jornalismo nos pre-senteou com o “Serviço de Alto-Falante Voz da Mocidade”, de que tratamos, e a revista literária “Fatos”, que durante largo espaço de tempo existiram e serviram de meio e apoio na divulgação de notícias e debates, desempenharam relevante trabalho no campo da Comunicação Social no nosso meio.

Ali reencontro o rapaz Nozinho de Aldo falando dos seus amores, da saudade de Sousa, exilado, longe no estudo, mais tarde juiz de direito, fundador e diretor da Faculdade de Direito de Sousa, jornalista, intelectual consagrado com o seu nome próprio Firmo Justino de Oliveira. Cola-borador erudito, Edísio Justino cultivava grandes temas, ao lado do sisudo Otávio Mariz e do espirituoso e irônico Zú Silva contando as suas histórias. E mais Sylvio Timótheo e Gastão Medeiros evocando datas, pessoas, Eládio Melo, e Professor Senhorzinho discutindo os costumes, os vultos venerandos da pátria. Romeu Gonçalves e Nias Gadelha, em discussões veementes sobre a política partidária local, secundados por Luiz O. Maia o mais terno, trágico e mavioso entre os poetas de Sousa ou que aqui viveram, outros e outros, inumeráveis, tratando de intimidades, opinião pública, cidadania.

E pasmem! Coisas nacionais e internacionais, universalizando o nosso métier. O Sputnik, o inverno, a seca, o comércio, os bancos, a in-dústria, os costumes, estão ali no livro. E os severos e cáusticos co-mentadores e críticos alônimos como “Marcelo”, “Zé da Boa Vista”, e o famosíssimo na época “Léo–Dênis”, que provocou censura e intervenção policial na programação da “Voz da Mocidade”. Duvidam? Comprem o livro. A portaria famigerada será editada em fac-símile.

Chamo a atenção dos leitores para a importância dessas realizações, na atividade hoje denominada mídia, criadas por Evilásio, numa época que não existiam estações de televisão, e a rádio-difusão somente funcionava nas capitais dos Estados, nas grandes cidades. Localidades do interior, Sousa entre elas, viviam o seu próprio universo humano e social em movimento, mas isolada, ausente do noticiário que falava do hoje, do mo-derno do que estava por vir.
Entre outras denominações e títulos dados aos programas, tão sugestivos, também este do gosto local, que assegurava audiência e popularidade à sua “Voz da Mocidade”. Ele sabia que era importante despertar curiosidade, provocar suspense para se tornar irresistível, daí a denominação do programa e o título do livro: “A Crônica Que Não Foi Lida”. Intuiu Evilásio que todos fariam indagações, se entregariam à conjecturas. O que não foi lido? Algo importante, com certeza, envolvendo interesses reservados da sociedade local, que não deveriam ser divulgados na época. E todos desejariam saber.

Evilásio fez muito bem em decidir publicar em livro o que foi lido e caminhava para o esquecimento. Está no caminho certo, coberto de razão. O seu livro será lido como as suas notícias eram escutadas e comentadas. Faziam a vida da cidade. E lhe somos gratos. Quantas lembranças renas-ceram na minha memória cansada, que não se encorajava em buscá-las, não sabia onde procurá-las.
Considero suaves, estimulantes e ternas tais lembranças. Afinal de contas muitas ali estão renascidas, para nova fruição. Por que não?.............

Sousa, 28 de junho de 2007.

             Eilzo Matos

                   Autor do prefácio

Evilásio Marques Pinto

Autor do artigo