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26 de dez. de 2010

Oração de Graça!...


Não, eu não invejo ninguém... eu tenho tudo Senhor!
Na manhã cheia de sol eu me sinto feliz
como os pássaros que abandonam o mistério dos ninhos
e são notas de música na pauta dos caminhos

Eu dormi bem, Senhor. como as crianças e os justos,
muito embora eu já tenha sofrido
e já tenha pecado.
- fechei os olhos com as estrelas! e abri-os quando o sol
saltou o muro verde das montanhas
e libertou-se pelo descampado!

Acordei com a madrugada dealbando
e as aves tagarela,
- e ao abrir os meus olhos, já encontrei me espiando
os dois olhos quadrados das janela

Não, eu não invejo ninguém... Eu tenho livres e fortes
os braços, as pernas e o coração...
- E estão limpos os meus olhos
e a minha alma é sadia,
- e posso sentir a força dos meus músculos
com um orgulho viril e uma ingênua alegria!

Abro os braços e respiro fundo, como quem sente
e saboreia lentamente
um sorvo puro de ar!
E penso então para mim, intimamente:
- que bom, numa manhã de sol assim, a gente
respirar!

Canta o ar nos pulmões que vibram como sinos
brônzeos, sincopados,
num misterioso som,
e eu repito comigo numa alegria cheia de prazeres
incalculados:
- que bom a gente respirar! que bom!

Que bom sentir no sangue os ímpetos da vida
e nos olhos a luz que dos céus se irradia,
como se abríssemos pela primeira vez os olhos
para o primeiro dia!

Sentir-se humano, e amar as coisas simples
encontrando-se de repente livre e puro
depois de tanto tempo cativo,
a repetir tal como eu, atordoado com a própria descoberta:
- eu amo! eu vivo

Não, eu não invejo ninguém... e quero dizer ao mundo
por que me sinto feliz...
Há tanta gente como eu qu está vivendo
e segue se maldizendo
sem saber o que diz...

Eu tenho tudo, Senhor...Eu tenho tudo, Senhor...

Posso vestir-me e sair, deambular pelas ruas;
olhar as casas, ouvir os pássaros, acompanhar os navius
partindo
e chegando;
ou sentar-me no banco dos jardins, sob a sombra ainda fria
das árvores
para sentir-me criança outra vez, na alegria
da criança sorrindo
e brincando...

Sentar-me no banco das praças, junto aos lagos e às ermas
dos poetas,
a olhar os repuxos bailarinos
esquecido do tempo e sem saber quem sou eu...
- para reler aqueles versos claros e divinos
que um dia.

E posso debruçar-me nas amuradas a observar
as gaivotas que mergulham,
os ônibus que correm,
ou os reflexos do sol liqüefeito no mar...

E posso ir às praias encontrar-me com as ondas,
meter os pés descalços nas areias úmida,
correr como um menino
ou como o vento!
- e escalar as montanhas, e fugir pelas estradas
sem saber por muito tempo qual o próprio destino
do meu pensamento!

E posso entrar nos "cafés", e deixar-me ficar
para ver todo mundo que passa nas ruas;
e admirar as vitrinas
e desejar as mulheres!
- tudo isso eu posso fazer!
E posso amar, e posso pensar, e posso escrever!

Não, eu não invejo ninguém . . . Eu tenho tudo. Senhor!

As ruas, as praças, os jardins, os caminhos,
as árvores, o mar, a alegria das crianças,
o ar com que encho os pulmões...
E o ruído das ondas, e o sussurro das folhas, e a música das água.
e as cores, e os perfumes, e as formas, e os sons!

Eu tenho tudo. Senhor!... Eu tenho tudo. Senhor!

Tenho demais talvez, porque ainda trago um coração
que compreende a grandeza
dessa graça,
e a infinita beleza
desse amor!...

- Obrigado, Senhor!...